terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Carmen (Bizet)

Carmen, uma história de amor e sangue
Uma obra de um intenso colorido, com música luzidia, alegre e ameaçadora, que evoca a cultura espanhola. Uma história povoada de pessoas e lugares que evocam Sevilha, as cigarreiras na praça, os contrabandistas no monte, a cigana na taberna, o toureiro na arena.

Manuel Cabral Aguado Bejarano (1827-1891), A Morte de Carmen
O libreto
Friedrich Nietzsche referiu-se à música de Carmen como “ligeira e dionisíaca” e “a melhor ópera jamais escrita”. Deixou escrito:
“Não conheço nenhum outro exemplar onde o espírito da tragédia, que constitui a essência do amor, se encontre expressado com tanta severidade e rigor ou se revista de uma forma tão terrível como no grito lançado por Don José: ‘C’est moi qui l’ai tuée’”.

1. Que escritor, historiador, arqueólogo, conhecedor de várias línguas, é o autor da história que inspirou o libreto? (20 pontos)
2.  Quem são os autores do libreto? (10 pontos)

As personagens
As personagens desta ópera pertencem a uma Espanha misteriosa, um lugar mítico de liberdade sentimental e quentes emoções, que existe sobretudo na arte, na literatura e na música. As personagens apaixonadas e apaixonantes evidenciam também debilidades e fragilidades humanas.
[A ópera] em vez de nos mostrar essas bonequinhas celestes e rosadas que encantavam os nossos progenitores, oferece a estampa de homens e mulheres de carne e osso dominados pela paixão, acompanhados por uma orquestra que se expressa com a ênfase de um poeta para nos contar as suas angústias, ciúmes e arrebatamentos insensatos.”
Crónica de Théodore de Bauville em “Le National”

3.       Considerando as suas características e a respetiva música, identifique as personagens.
3.1. Uma cigana sedutora e de uma beleza insolente, personifica a tentação. Denota uma grande sensualidade e uma desafiante liberdade. (20 pontos)
3.2.  Um humilde soldado, apaixonado por Micaela, até ao momento que cheira a embriagante flor que Carmen lhe oferece. Representa a responsabilidade sem liberdade. (20 pontos)
3.3. Um toureiro granadino, varonil, fanfarrão e mulherengo. Acaba por substituir Don José no inconstante coração de Carmen. (20 pontos)
3.4. Virginal, inocente e virtuosa. Órfã criada pela mãe de Don José, com o qual quer casar. Atravessa a perigosa geografia de Espanha em busca do seu amado. (20 pontos)
A estreia
Numa época em que o público francês se deleitava com a alegre e ligeira produção de Offenbach, a estreia de Carmen produziu um certo escândalo. A obra significava uma nova linguagem artística, uma nova liberdade de expressão na ópera. Carmen, violenta sexual, voluntariosa e, o que parecia ainda mais escandaloso, livre!
4.     Quando e onde foi estreada esta obra de Bizet? (20 pontos)
5.  Que musicólogo restaurou a versão a edição original desta ópera, com diálogos em vez de recitativos? (20 pontos)
6.      Que outra ópera de Bizet, também marcada pelo exotismo, foi estreada a 30 de setembro de 1863, no Théâtre Lyrique de Paris? (20 pontos)

A Música
7.       Oiça atentamente.
7.1.  Considerando as três imagens, e depois de ouvir a abertura, identifique os temas da corrida de toiros, do toureiro e do destino (o tema fatídico), também presentes noutros momentos da ópera (clicar ouvir aqui). (20 pontos)
Tema 1
Tema 2
Tema 3
7.2.   Que motivo rítmico, ouvido nos violoncelos, acompanha a voz na ária L'amour est un oiseau rebelle (vídeo 1)(10 pontos)



quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Requiem alemão, um requiem para a humanidade

Requiem alemão, um requiem para a humanidade
«No que respeita ao título, tenho de reconhecer que de bom grado suprimiria o “alemão” e poria “homem”, simplesmente.»

Johannes Brahms (1833-1897)
Apesar das mortes de Robert Schumann, em julho de 1856, e da mãe de Brahms, em janeiro de 1865, serem frequentemente referidas como um dos motivos que conduziu à composição do Requiem Alemão, o compositor referiu-se à obra como um requiem «para toda a humanidade».

Manuscrito com os textos do Requiem Alemão

A obra,  concluída em 1868, conheceu um longo período de gestação. Na sua base está um conjunto de textos escolhidos por Brahms e não os textos da Missa de Requiem Católica. Como tal, a obra não foi pensada para o serviço litúrgico, mas sim para uma sala de concertos.

1. Que tipo de textos utiliza Brahms na composição do seu Requiem Alemão? (20 pontos)
2. Para que formação foi composta a obra? (20 pontos)
3. Com quantos andamentos foi apresentado, na sua estreia parcial, a 1 de dezembro de 1867, Requiem Alemão? (10 pontos)

A natureza dos seus textos confere à obra um cariz espiritual e religioso. Apesar da obra ser identificada como um requiem, Brahms não pretende lamentar ou glorificar os mortos, mas sim consolar os que ficam, oferecendo-lhes conforto e esperança na ressurreição.

O Requiem Alemão transmite doçura e consolo. Oferece uma visão de estabilidade, segurança e confiança num Além transcendente, mas espiritualmente palpável, omitindo as imagens aterradoras do Juízo Final, um elemento central no requiem da liturgia católica.

4. Considerando os dois quadros, ordene os andamentos e associe a cada um deles as suas principais características e ideias poéticas (para ouvir clique em cima do nome do andamento). (40 pontos)



O andamento começa gravemente com a intervenção do coro, que manifesta o desassossego perante o lado efémero da vida, e prepara a entrada o barítono. A secção seguinte, apoiada pelos metais e timbales, proclama a «ressurreição dos mortos incorruptíveis» e, com ela, a derrota da própria morte. Termina com uma dupla fuga em stretto que glorifica a omnipotência do Criador.


Acompanhado por trémolos de contrabaixos e de timbales, o solista lança aos céus um grito de angústia. O indivíduo interroga Deus acerca da sua vida. «Fazei-me conhecer, Senhor, o meu fim, e qual o número dos meus dias.» (Salmo 38)


Início marcado por um tema escuro, que sugere uma espécie de marcha fúnebre em 3/4, ao qual se segue um momento mais luminosa e lírico. Depois da morte ergue-se vitoriosa a palavra de Deus, que prometeu uma eterna alegria aos redimidos.


Réplica musical e espiritual do coro inicial. Une a ideia do consolo dos aflitos com a da redenção dos defuntos. «Bem-aventurados os mortos, que morrem no Senhor!» (Apocalipse, 14-13)


Andamento de carácter intimista, expressivo, iluminado de confiança extática na ressurreição, acrescentado em memória de sua mãe. Na parte final, as vozes da solista e o coro fundem-se numa voz única, sobre as palavras «Ich will euch wiedersehen» (Voltarei a ver-vos).


Depois de uma introdução orquestral sombria, num tom grave e velado, emerge a entrada seráfica do coro que canta a cappella, como que ilustrando a ideia da vida depois da morte. Aqueles que choram e sofrem serão consolados.


O andamento mais breve da partitura, de carácter mais sereno e contemplativo, descreve as alegrias celestiais da vida eterna. Funciona como eixo de simetria do conjunto. «Quão amável é a tua morada, Senhor dos exércitos!» (Salmo 83)


Breve análise
5. Que instrumentos da secção das cordas não tocam no primeiro andamento? (20 pontos)
6. Em que andamento canta pela primeira vez o barítono? (20 pontos)
7. Em que tonalidade, de carácter fúnebre, inicia Denn alles Fleisch, es ist wie Gras? (20 pontos)
8. Que tipo de escrita caracteriza o final de Herr, lehre doch mich, sobre as palavras  Der Gerechten Seelen sind in Gottes Hand (As almas dos justos estão nas mãos de Deus), construído sobre uma nota pedal sustentada (compasso 173, minutos 7’33’’ - partitura aqui)? (20 pontos)
9. No quarto andamento, qual a relação entre os compassos 1 a 4 da flauta e 4 a 8 dos sopranos, a nível do tratamento melódico realizado por Brahms? (20 pontos)

Compassos iniciais do 4º andamento

10. Faça a transposição dos primeiros quatro compassos da parte do primeiro clarinete (voz superior), no quarto andamento da obra.
(10 pontos)